quinta-feira, 15 de outubro de 2009

-> O preço da hora

Numa grande e agitada cidade do Sudeste brasileiro vivia um solitário menino. Nada lhe faltava: estudava no melhor colégio do bairro, possuía todos os brinquedos que eram anunciados na televisão como sendo "de última geração", sua alimentação era completa e balanceada e, caso adoecesse, era levado aos melhores médicos e especialistas. A primeira vista parecia que tudo estava perfeito em sua vida, mas havia uma coisa da qual ele sentia muita falta.

Certa noite, quando seu pai regressou de mais um dia de trabalho, estressado como todos os outros dias de todos os outros meses e de todos os outros anos, Rubinho - este era seu apelido - surpreendeu a todos com a seguinte pergunta:
- Pai, quanto você ganha por hora?
O pai, um tanto irritado, questionou:
- Que pergunta é essa, garoto?
- Por favor, pai! Responda! Quanto você ganha por hora? - insistiu Rubinho.
- Não revelo isso a ninguém! Nem a sua mãe sabe! Porque você quer saber - foi à resposta. Mas o garoto não desistiu. Afinal, demorara tanto para tomar coragem...
- Por favor, pai! É importante para mim!
Diante da insistência do filho, o pai acabou dizendo: - Cinqüenta reais à hora!
- Então, pai, dá para me emprestar 20 reais?
Muito indignado, aquele pai largou até os talheres, empurrou o prato com o jantar e esbravejou:
- Era para isso que você queria saber quanto ganho por hora? Seu moleque interesseiro! Está querendo me sugar ainda mais o sangue? Já não basta eu me matar de trabalhar para te sustentar com tudo do bom e do melhor? Você não me perguntou se eu estou cansado, se tive um dia difícil, mas o meu dinheiro você quer! Vá já para cama e não me amole mais!
Coitado do Rubinho! Muito triste, mas obediente como sempre, foi para se quarto, mas não conseguia dormir. Algumas horas mais tarde, o pai, arrependido de ser tão grosseiro com o filho, foi ao quarto do menino e disse:
- Desculpe meu filho. Eu ando muito nervoso e acabei dizendo o que não queria. Está aqui o dinheiro que você pediu. Com os olhos ainda molhados de lágrimas, o menino enfiou a mãozinha debaixo do travesseiro e pegou 30 reais. Muito feliz, disse:
- Agora já completei! Pai, você pode me vender uma hora do seu tempo?