Eram dois amigos e pareciam ter a mesma alma. Tudo era comum a ambos: tristezas e alegrias. Eram inseparáveis. Um dia começaram a observar, com olhos críticos, um ao outro. Nessa mútua observação, perceberam quantos defeitos havia no outro e resolveram, intimamente, sem nada externar, moldar o caráter do outro pela forma do seu próprio.
Passado algum tempo, um certo resfriamento começou naquela amizade. De início, eles nem perceberam. Entretanto, quando um deles perdeu um ente querido, o outro não se fez presente, em solidariedade. E o outro, no seu aniversário, não recebeu o abraço do amigo. Certo dia, se encontraram em uma praça e confessaram mutuamente como estranhavam o que lhes estava acontecendo. Com certeza, disseram, era a inveja alheia que havia destruído o sentimento que nutriam.
O Padre da igreja da cidade foi consultado a respeito e convidou-os a um passeio. Era um dia quente e o sol queimava. Depois de andarem muito, sedentos e exaustos, encontraram uma limeira. Seus frutos saborosos dessedentaram os amigos e a sombra os reconfortou.
O Padre olhou para a árvore e disse: Esta árvore tem bons frutos, mas se a podássemos poderia produzir muito mais. Os galhos poderiam ser redirecionados, poderíamos libertá-la dos parasitas. Com esse intuito, os dois amigos compareceram no dia seguinte e realizaram a poda, de tal forma que ela ficou quase desnuda.
Passados uns dias, o Padre tornou a convidar ambos para o mesmo passeio. Chegados ao pé da limeira, novamente sedentos e exaustos, observaram que nela não havia nenhum fruto e bem rala era a sombra que podia oferecer, pois possuía somente diminutas folhas. Descontentes, falaram os amigos: Como fomos tolos podando esta árvore. Destruímos os seus frutos e a sombra amena, que nos reconfortou no outro dia.
Foi então que o Padre os olhou e disse: O que fizeram com esta árvore é o que fizeram com a sua amizade. Cada um quis modificar o outro e então perderam todo o encanto do afeto que os ligava. Mataram, com podas improdutivas, a árvore da amizade que tinham plantado no coração. E finalmente completou: Todo sentimento necessita, para que não pereça, ter como base a tolerância e o respeito.
Não queiramos modificar a outrem. Aceitemos as criaturas como são. Assim procedendo, haveremos de encontrar sempre em seus corações, apesar dos defeitos, frutos saborosos e doces e sombra amiga.
* * *
A amizade é árvore que, para produzir, necessita ser plantada e cuidada com esmero. Se colocarmos em nossas ligações afetivas o sal do amor, teremos sempre presente no prato da fraternidade o verdadeiro paladar cristão.