terça-feira, 27 de janeiro de 2009

-> Lição de um coração infantil

Foi ao visitar o hospital que o menino conheceu
a garota doente. Ao entrar, ele teve uma vaga
impressão de tristeza. Achou estranho.
Afinal, o médico lhe mostrou um grande armário
com pílulas contra tosse, pomada amarela contra
bolhas e pó branco contra febre.
Mostrou-lhe a sala onde se podia olhar através
do corpo de uma pessoa como através de
uma janela, para ver onde a doença se escondeu.
Mostrou-lhe outra com espelho, onde se operavam
tantas coisas que ameaçavam a vida.
Estranho, pensava o garoto. Se aqui impedem
o mal de ir adiante, tudo devia parecer alegre e feliz.
Por que estou sentindo tanta tristeza?
O médico lhe explicou como a doença insistia
em entrar no corpo das pessoas.
Que havia mil espécies de doenças, que usavam
máscaras para que não pudessem ser reconhecidas
e como era difícil manter a saúde.
Explicou ainda que era preciso estudar
muito para desmascarar, desanimar a doença,
colocá-la para fora e atrair a saúde,
impedindo-a de fugir.
Mas, quando entrou no quarto da doentinha,
ele a achou muito bonita, mas pálida.
Os cabelos se esparramavam pelo travesseiro.
Ela lhe disse que não podia andar.
Mas também não tinha muita importância porque
ela não tinha lugar nenhum para ir.
Roberto lhe falou do jardim, cheio de flores,
que ele tinha em sua casa. Ela pareceu se animar
um pouco e respondeu que se tivesse um jardim,
talvez sentisse vontade de sarar,
para passear entre as flores.
Enquanto ela continuava desfilando sua tristeza,
contando das pílulas e injeções que devia
tomar todos os dias e dos exercícios que
precisava fazer, Roberto pensava:
para esta menina sarar, é preciso que ela deseje
ver o dia seguinte.
Se ela tivesse uma flor, com sua maneira
toda especial de se abrir, de improvisar surpresas,
talvez quisesse sarar. Uma flor que cresce
é uma verdadeira adivinhação que recomeça
cada manhã.
Um dia ela entreabre um botão, num outro
desfralda uma folha mais verde que uma rã,
num outro desenrola uma pétala.
Talvez esta menina esqueça a doença,
esperando cada dia uma surpresa.
Roberto afirmou que ela iria sarar e desejou
ardentemente isto.
Depois foi providenciar flores, diversas flores
e as colocou sobre a mesa, perto da janela,
aos pés da cama.
Trouxe uma esplêndida rosa, que parecia
ir lentamente abrindo suas pétalas como
se estivesse envergonhada ou talvez quisesse
guardar a surpresa para outro dia.
Então, a menina que somente ficava olhando
o teto e contando os buraquinhos da madeira,
contemplou as flores e sorriu.
Naquela noite mesmo a tristeza saiu pela janela
e a menina começou a mover as pernas.
Você sabia?
Que a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste?
E que para curar-se dos males físicos é preciso
ter vontade de viver?
Todo bom médico sabe disso.
E sabe também que para travar a luta ininterrupta
contra a doença, preservando a saúde,
é preciso ver nos pacientes seus irmãos.
Em síntese, é necessário amar muito as criaturas.
Só assim ele tem condições de detectar
as doenças e restabelecer a saúde
dos seus pacientes.